Breve parecer médico-legal investigativo da notícia. No caso em tela, seria a versão masculina do Boa-noite, Cinderela!? Melhor dizendo, seria Boa-noite, Príncipe!?
Segundo twitter.com/jornaldarecord/status/1633250954655965184, 07.03.2023, existe a possibilidade de novo golpe do Boa-noite, Cinderela!
Relata um empresário que estaria na fila da balada, quando teria sofrido uma picadinha na região flanco/dorsal esquerda (segundo imagem), caminhou uns 10 passos, e em 30 segundos, desfaleceu e não se lembra de mais nada.
Foi socorrido pelo SAMU na manhã seguinte numa praça, desmaiado, duas costelas quebradas e ferimentos pelo corpo. Recuperou totalmente a consciência dois dias depois, em casa. Teria sofrido um ataque com agulha e seringa com alguma substância.
Sua conta bancária foi invadida, tendo sido gasto próximo dos R$ 40.000,00. Seria submetido a exame toxicológico.
Ao assistir à reportagem, lembrei de Floripa da década de 80. Nesta época, rádios e jornais locais, noticiaram que uma pessoa com AIDS teria dito que iria transmitir a doença com agulha infectada, espetando as pessoas.
A pessoa seria usuária de cocaína injetável e a transmissão principal era pelo compartilhamento de seringa com agulha contaminada.
Neste contexto atendi uma senhora que relatou estar sentada no banco do ônibus, quando sentou uma pessoa ao seu lado e teve a sensação de ter sido picada por agulha. Pensou em gritar, mas se conteve, mas estava preocupada.
Na consulta, constatou ser fruto da sua imaginação! E da pessoa portadora do HIV, nada foi comprovado, mas gerou certo pânico em algumas pessoas!
Do ponto de vista médico-legal, o histórico do empresário é duvidoso, beirando a imaginário. A motivação deve ser investigada, caso a história não seja verdadeira.
O agressor teria que introduzir a agulha e comprimir o embolo da seringa, no subcutâneo ou intramuscular, com extrema rapidez e agilidade. Seria o agressor alguém da área da saúde?
Outro detalhe, a via de administração injetável, ação rápida de substância com efeito no sistema nervoso central, em geral, é endovenoso.
Entretanto, deve ser investigado pela autoridade policial imagens de câmeras de segurança do local externo e interno da balada. Caso seja confirmada a presença na casa noturna, requerer a comanda do consumo de bebida alcoólica no local.
A autoridade policial deveria também requerer o exame de lesão corporal e toxicológico, e avaliação psicológica da suposta vítima.
O perito médico-legista deve requerer o boletim de atendimento do SAMU e se foi atendido numa instituição médica, requerer o prontuário médico, para avaliar sinais e sintomas registrados.
Finalmente, quebra do sigilo bancário para verificar o modo da utilização do cartão bancário ou dados bancários. Não raro, saque em caixa eletrônico tem câmera de monitoramento.
Um caso atípico, sem violência sexual, comum dos relatos na versão feminina do Boa-noite, Cinderela!
O leigo assistindo o jornal, pode ter a impressão de que o caso é verdadeiro, mas na visão médico-legal, breve parecer da notícia, faltam muitas investigações e perícias! Pena que a abordagem da notícia não é investigativa!
A primeira notícia é que fica, mesmo eventualmente sendo falsa. Infelizmente, em geral, não é divulgado o resultado da investigação. No momento, cinderelas e príncipes, podem continuar na balada, sem medo, mas com moderação!